Era agosto de 85, Adolfo Perez Esquivel, o argentino Prêmio Nobel da Paz de 1980, veio a Foz do Iguaçu participar da 2ª Jornada de Solidariedade ao Povo Paraguaio.
Durante dois dias exilados paraguaios e representantes de entidades defensoras dos direitos humanos vindos de vários estados brasileiros lotaram o auditório do Colégio Agrícola, para debater as formas de luta contra uma das ditaduras mais sangrentas do cone sul. Políticos e autoridades iguaçuenses primaram pela ausência naquela demonstração pública que marcou a história da cidade. Jornalistas, apenas a turma do semanário Nosso Tempo. Os demais, ah, os demais, sei lá, não importa.
Apesar de estar com a agenda cheia, requisitado que era para proferir palestras em vários países, Esquivel veio a Foz e participou ativamente das reuniões de grupo e da plenária. Brilhou nas intervenções em defesa da democracia e dos direitos humanos.
Naquele final de semana, por coincidência, estava marcada a inauguração de uma espécie de tribuna que o então prefeito Perci Lima havia construído sobre a calçada da esquina da Belarmino com a Brasil. Nas imediações reunia-se nas tardes de sábado um grupo de amigos para tomar cerveja e jogar conversa fora. E foi entre umas e outras que alguém teve a idéia de convidar Perez Esquivel para a inaugurar o lugar. Porém, nenhum dos membros da confraria se animou a ir até o Agrícola. Todos se cagavam de medo do SNI a da polícia secreta do general Stroessner. Foi então que o Jorge Figueiredo, que era assessor de imprensa da prefeitura, dispôs-se a levar o prefeito para fazer o convite.
Perci topou a parada e foi até o local onde se realizava a Jornada. Conversa vai, conversa vem e acabou convencendo o ilustre convidado dos coordenadores dasJornadas de Solidariedade. Meio em dúvida se valia a pena, mas em consideração ao prefeito da cidade, Esquivel saiu do salão do Colégio Agrícola e inaugurou o local, que alguns batizaram como “Tribuna Livre”, outros de “Garganta do Diabo”, mas que acabou sendo conhecido pelo popular nome de “Boca Maldita”.
Terminada a solenidade, o Prêmio Nobel convidou o prefeito e as demais pessoas presentes para participarem dos atos finais da Jornada de Solidariedade ao Povo Paraguaio. Educados, os membros do pequeno grupo presente na inauguração disseram que iriam em seguida. Perez Esquivel agradeceu e voltou para o encerramento do fórum antiditatorial, enquanto os “gargantudos” passaram o resto da tarde sentados no bar por conta da saideira.
As fotografias, documentos e textos deste blog fazem parte do acervo de Aluízio Palmar, que foi composto com a colaboração de vários pioneiros de Foz do Iguaçu. Está autorizada a reprodução dos conteúdos e agradecemos a citação da fonte.
segunda-feira, 9 de junho de 2014
PRESIDENTE DA CÂMARA DE FOZ PRESTAVA CONTAS AO SNI
No documento em fac-simile, o chefe da Agência do SNI em Curitiba, coronel Valdir E. Martins, solicita ao Presidente da Câmara Municipal deFoz do Iguaçu, que envie de forma sigilosa àquela agência cópias dos pronunciamentos do vereador Evandro Stelle Teixeira, que em seus pronunciamentos denunciava corrupão na prefeitura comandada pelo coronel Clóvis Cunha Vianna.
Em 1965, os partidos políticos foram extintos pelo Ato Institucional nº 2, e a partir de 1968 os prefeitos de regiões consideradas “Áreas de Segurança Nacional”, como Foz do Iguaçu, passaram a ser nomeados pelo ditador de plantão.
ESPIONAGEM E DELACOES EM FOZ DO IGUACU
Júlio Rocha Neto e o delegado
* Aluizio Palmar
Argeu Saraiva Valério era um daqueles delegados de polícia zelosos em servir e bajular seus chefia da delegacia de Foz do Iguaçu, ele entrou em choque com o comando político do município, que na época era exercido por Júlio Rocha Neto, então presidente da Arena. No país, governado pelo general Garrastazu Médici, a Arena mandava e desmandava e seus chefes eram as autoridades máximas nos municípios.
superiores. Em 1972, ocupando a
Certa ocasião, Argeu Saraiva foi convocado para ir até o escritório de Julio Rocha Neto. Imaginando que deveria ser alguma bronca, o delegado, antes que Julinho dissesse alguma coisa, encheu o chefe da Arena de elogios e jurou lealdade ao partido e a “revolução”. Comentou, inclusive, seus serviços de espionagem e delação daqueles que se opunham ao sistema político imposto ao País. Mas a lengalenga do delegado não durou muito. Todo-poderoso, o representante do partido da ditadura em Foz do Iguaçu interrompeu Argeu Saraiva e foi logo dizendo:
- O senhor está contrariando meus amigos e correligionários e isso eu não admito.
- Mas doutor ...
- Já falei com o deputado João Mansur e o senhor vai ser transferido
- ... eu sou um homem leal ao governo, doutor e se depender de mim não vou pedir minha transferência.
- Eu só estou comunicando ao senhor a nossa decisão.
Dito isso Julio Rocha Neto, ajeitou uns papéis que estavam em cima da escrivaninha, levantou-se da cadeira, caminhou até a porta do escritório e a abriu de par a par para o delegado sair.
Magoado com o acontecido, Argeu Saraiva foi até a delegacia que funcionava num prédio localizado na Rua Rio Branco, onde hoje é a Praça da Paz, e escreveu um longo relatório ao delegado Chefe da Divisão Policial do Interior, Ricardo Taborda Ribas.
Em sua narração, Saraiva botou merda no ventilador e escrachou de uma só vez todos os políticos iguaçuenses. Destilando veneno, o delegado relatou pormenores da vida particular de cada um, para por fim dizer que nenhum deles tinha moralpara pedir sua cabeça.
Não deu outra. Saraiva acabou se queimando com seus superiores. Quebrou a cara ao revelar a vida íntima de seus desafetos.
Argeu Saraiva Valério era um daqueles delegados de polícia zelosos em servir e bajular seus chefia da delegacia de Foz do Iguaçu, ele entrou em choque com o comando político do município, que na época era exercido por Júlio Rocha Neto, então presidente da Arena. No país, governado pelo general Garrastazu Médici, a Arena mandava e desmandava e seus chefes eram as autoridades máximas nos municípios.
superiores. Em 1972, ocupando a
Certa ocasião, Argeu Saraiva foi convocado para ir até o escritório de Julio Rocha Neto. Imaginando que deveria ser alguma bronca, o delegado, antes que Julinho dissesse alguma coisa, encheu o chefe da Arena de elogios e jurou lealdade ao partido e a “revolução”. Comentou, inclusive, seus serviços de espionagem e delação daqueles que se opunham ao sistema político imposto ao País. Mas a lengalenga do delegado não durou muito. Todo-poderoso, o representante do partido da ditadura em Foz do Iguaçu interrompeu Argeu Saraiva e foi logo dizendo:
- O senhor está contrariando meus amigos e correligionários e isso eu não admito.
- Mas doutor ...
- Já falei com o deputado João Mansur e o senhor vai ser transferido
- ... eu sou um homem leal ao governo, doutor e se depender de mim não vou pedir minha transferência.
- Eu só estou comunicando ao senhor a nossa decisão.
Dito isso Julio Rocha Neto, ajeitou uns papéis que estavam em cima da escrivaninha, levantou-se da cadeira, caminhou até a porta do escritório e a abriu de par a par para o delegado sair.
Magoado com o acontecido, Argeu Saraiva foi até a delegacia que funcionava num prédio localizado na Rua Rio Branco, onde hoje é a Praça da Paz, e escreveu um longo relatório ao delegado Chefe da Divisão Policial do Interior, Ricardo Taborda Ribas.
Em sua narração, Saraiva botou merda no ventilador e escrachou de uma só vez todos os políticos iguaçuenses. Destilando veneno, o delegado relatou pormenores da vida particular de cada um, para por fim dizer que nenhum deles tinha moralpara pedir sua cabeça.
Não deu outra. Saraiva acabou se queimando com seus superiores. Quebrou a cara ao revelar a vida íntima de seus desafetos.
sábado, 7 de junho de 2014
O TRANSPORTE FLUVIAL PELO RIO PARANA DURANTE O PERÍODO EXTRATIVISTA
A região de Foz do Iguaçu pode ser caracterizada pela sua forma de trabalho, com a
utilização dos mensús que eram contratados para retirar erva mate e trabalhar no corte de madeira para
os argentinos, donos das terras, venderem a empresas argentinas que, por sua
vez, vendiam esses produtos na capital desse país. Os mensús eram trabalhadores mensalistas, de origem paraguaia, o que
favoreceu a presença e a utilização da língua guarani e o espanhol por muito
tempo na região. A ausência de meios de transporte e comunicação permitiu que
esse processo se mantivesse pelo menos até 1940.
Nota-se que a extração de erva e
de madeira prejudicava o desenvolvimento e a ocupação da cidade uma vez que
essa economia não era muito chamativa para a atração de brasileiros, pois
utilizava em larga escala a mão-de-obra da própria região contratada a baixos
salários, sendo o desenvolvimento da agricultura uma solução para a esse
problema.
Barco Sao Francisco |
Nota-se então um grande numero de portos nas margens do rio Paraná.
Esses portos pertenciam aos
obrageros que exploravam as matas retirand erva mate e a madeira, principal
fonte econômica dessa região. Foi essa característica social e econômica que os
militares tiveram que enfrentar para nacionalizar essa região.
Os conflitos de interesses
provinham de que as obrages eram pertencentes a pessoas de descendência
argentina e de trabalhadores, na sua maioria, de paraguaios ou índios
“civilizados”. Estes tinham como fonte de renda a exploração as matas e os
militares tinham como função sistematizar essa economia e de programar a
administração do Estado brasileiro.
Fonte:Evandro
Ritt (PPGHS, UEL) Gilmar
Arruda (PPGHS, UEL)
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