As fotografias, documentos e textos deste blog fazem parte do acervo de Aluízio Palmar, que foi composto com a colaboração de vários pioneiros de Foz do Iguaçu. Está autorizada a reprodução dos conteúdos e agradecemos a citação da fonte.


domingo, 4 de maio de 2014

A PRISÃO DO PÁROCO DE FOZ DO IGUAÇU


As acoes dos dedo-duros durante a segunda guerra mundial não perdoaram nem as autoridades religiosas. Em 1942, a partir de uma denúncia  do
escrivão Aracy Albuquerque Neira, o prelado de Foz do Iguaçu, monsenhor dom Manoel Koenner, foi preso e processado sob a acusação de “haver praticado delito previsto  pelo artigo 13  da Lei de Segurança Nacional”. As autoridades policiais alegaram como motivo para a prisão, ocorrida em 19 de janeiro de 1942, terem encontrado uns caixotes na Prelazia, contendo armas de caça, munição,discos alemães e materiais de farmácia, entre outros objetos.
Em seu relatório, o delegado regional de Polícia, Gláucio Guiss, chegou ao cúmulo de afirmar que a congregação do Verbo Divino, a que pertencia dom Manoel Koenner, era uma “grande rede de espionagem alemã no Brasil”.
Na ânsia de mostrar serviço aos seus superiores, o delegado Gláucio Guiss informou, no relatório que escreveu às autoridades de Curitiba, que nos caixotes depositados na prelazia, foram encontrados “material bélico e munições de guerra, além de propaganda da Ação Integralista do Brasil, organização de inspiração fascista e dirigida por Plínio Salgado”.     
Já em seu depoimento, prestado ao delegado Gláucio Guiss em 19 de janeiro de 1942, dom Manoel Koenner afirmou que desconhecia o conteúdo dos caixões, nos quais nunca mexeu  por recomendação de seus antecessores, padres Theodoro Harnecke e Vicente Hackl, presumindo serem de propriedade de um “arquiduque, um médico, um químico e um piloto, todos de nacionalidade húngara, que estiveram hospedados na Prelazia em 1937”.
Quanto a acusação de ser simpatizante da Ação Integralista, dom Manoel Koenner afirmou que de fato no ano de 1933 foi simpatizante desse movimento político, mas que em 1934 ele se desligou do mesmo por considerar que os dirigentes políticos do Integralismo não
inspiravam confiança. Com relação ao material encontrado em seu arquivo particular, o padre declarou que o  encontrou por “debaixo da porta principal da Prelazia e o guardou sem segundas intenções”.
Apesar de jurar inocência diante das acusações, dom Manoel Koenner foi mantido preso e processado  pelo Tribunal de Segurança Nacional.
O caso dos caixotes só foi esclarecido no depoimento prestado ao chefe do DOPS, delegado Valfrido Piloto, em sete de junho de 1943, pelo padre Vicente Hackl, ex-vigário de Foz do Iguaçu.
Segundo o padre Hackl, os caixotes foram deixados na Prelazia por uma comissão composta por quatro pessoas de nacionalidade húngara e chefiada por um arquiduque da Casa da Áustria, de nome Albrecht de Habsburg. Esse arquiduque chegara a Foz do Iguaçu em agosto de 1937 num avião de sua propriedade e se hospedara, juntamente com os demais membros, da comissão na casa paroquial.
Ainda segundo o padre Hackl, o tempo de permanência do Arquiduque e sua comitiva em Foz do Iguaçu foi de trinta dias. Antes, porém, de seguirem viagem para Assunção, pediram permissão ao vigário para deixarem os caixotes até março do ano seguinte, quando voltariam para buscá-los.   
Rigorosamente, a prisão dos padres da Congregação  do Verbo Divino não passou de mais um erro policial causado pela histeria e preconceito racial. Tanto que no ofício de número 1.374/43, enviado ao chefe da 2ª Seção do Estado Maior da 5ª Região Militar, o delegado  do Dops, Valfrido Piloto, informou que os proprietários  dos caixotes faziam parte de uma “expedição destinada à escolha de um latifúndio no território paraguaio, a fim de ser estabelecida uma grande propriedade agrícola, naturalmente com colonização estrangeira”.  Quanto as suspeitas de que essa propriedade pudesse vir a ser futuramente, um ponto de apoio a serviço de espionagem para as potências do Eixo, o delegado do Dops afirmou que não foi “descoberto nenhum indício que confirmasse esta conjectura”. Valfrido Piloto informou ainda à autoridade militar que todos os serviços de verificação realizados pela comissão húngara “foram feitos às claras, tendo sido acompanhados, até por pessoas estranhas à Comitiva e que os caixotes foram deixados em sala aberta e de fácil acesso, aí ficando como que abandonados pelos vários sacerdotes que exerceram a Prelazia”.
Apesar de todas as evidências inocentado-o das acusações, no dia nove de outubro de 1943, dom Manoel Koenner foi condenado a três anos de prisão pelo Tribunal de Segurança Nacional.


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